20.6.06
A Televisão (os seus perigos) e a Criança
Uma postagem colocada no blogue Irreal TV:
Damos agora destaque a um trabalho de grande importância publicado por Clara Viana, na Pública de 26.9.04, intitulado "O cérebro deles estará a mudar?". Optamos, com a devida vénia à autora, por colocar no Irreal TV algumas das passagens mais importantes do texto, que é, de certo modo, um alerta público, sobretudo quando se quer fazer passar a ideia de que a 'Baby TV' é um bem caído dos céus...
Para já, o 'lead': «Os problemas de atenção passaram a ser a nova marca das crianças e jovens. Um estudo recente, ignorado em Portugal, põe em causa a explicação genética. A exposição muito precoce aos écrãs, sobretudo à televisão, com as suas muitas imagens rápidas e variadas, poderá estar a condicionar o seu cérebro a só aceitar um alto nível de estimulação. “Formatados" pela velocidade e pela fragmentação, existirá já um fosso irremediável entre eles e uma escola que lhes exige o que já perderam. Neste cenário intervém a omnisciente Ritalin (Ritalina, na gíria portuguesa), a anfetamina que, por receita médica, milhões de crianças em todo o mundo estão a tomar por conta da desatenção.»
«(...) nos EUA foi dada como testada uma relação entre a exposição precoce à televisão e os problemas de atenção que, nos últimos anos, parecem estar a tomar de assalto as crianças e jovens do mundo desenvolvido. "Não é possível saber se o crescimento da desordem por défice de atenção e hiperactividade é real, ou se é motivado pelo maior conhecimento da desordem. Mas existem razões para acreditar que, na primeira infância, os factores ambientais são importantes no desenvolvimento da desordem. Deste modo, a televisão pode muito bem ser um desses factores", comentou à Pública o pediatra norte-americano Dimitri Christakis. Foi ele que liderou o estudo do Child Health Institut, da Universidadede Washington, que veio dar uma primeira grande resposta afirmativa à questão, abanando assim a abordagem genética do chamado défice de atenção, ainda a preponderante nos EUA, em Portugal ou em mais meio mundo.»
Não era por acaso que Michel Foucault dizia que a loucura era um 'facto de civilização'... Muito há, pois, a pensar, para além das 'razões' genéticas.
«(...) Cristakis e a sua equipa pegaram numa amostra de mais de duas mil crianças com um e três anos de idade e seguiram-nas até por volta dos sete. O que foi feito do seguinte modo: quando os miúdos tinham um ano perguntaram aos seus pais quantas horas viam eles televisão; fizeram o mesmo quando chegaram aos três anos e depois, quando já tinham sete, as questões aos pais incidiram sobre a capacidade de atenção dos observados, sobre a capacidade para se concentrarem, sobre se eram impulsivos ou se se distraíam facilmente. Para além destes questionários foram levadas em linha de conta variáveis como a depressão materna, a estimulação cognitiva e o apoio emocional, entre outras.
«Principal conclusão do seu estudo, publicado na revista "Pediatrics": independentemente do que vê- os conteúdos não foram tidos em conta - uma criança antes dos três anos que veja duas horas de televisão por dia tem mais 20 por cento de probabilidades de desenvolver problemas de atenção do que outra que não tenha sido tão exposta à mesma televisão. Sendo que, como também revela a sua investigação, nos EUA uma criança de um ano vê, em média, 2,2 horas de televisão por dia e uma de três chega quase às quatro horas. EmPortugal, esta contagem só tem sido feita a partir dos 4 anos. No ano passado, os que tinham entre esta idade e os 14 anos, despendiam a ver televisão uma média de 179 minutos por dia - quase três horas.
«Christakis explica o que se poderá estar a passar: "Nos primeiros três anos de vida está em curso um desenvolvimento crucial do cérebro, especificamente as conexões entre neurónios. Aquilo a que chamamos sinapses do cérebro estão a formar-se. É uma espécie de montagem da mente que está a ocorrer naquele período. (...)
«Frente à televisão, geralmente a sós, as crianças estarão a ser sujeitas precisamente a uma sobre-estimulação visual, dada sobretudo a velocidade com que se sucedem as imagens e a sua diversidade, que é hoje a própria matéria dos media electrónicos. Esta exposição aos écrãs - que começa na televisão e se prolonga depois nos jogos de computador, "game boy", internet, etc. - poderá ter já "condicionado o cérebro a um alto nível de estimulação", como sublinha o pediatra norte-americano
«A psicóloga educacional Jane Healy, que há mais de 10anos tem vindo a alertar para os efeitos do uso excessivodos media electrónicosna mente das crianças, admite que este processo induziu já alteraçõesno funcionamento do cérebro:"Temos que aceitar e capitalizar o facto de as crianças de hoje serem portadoras de novas competências apropriadas a este novo século. A mudança que constatamos nas nossas crianças pode ser a parte visível de uma mudança na inteligência humana, traduzida numa progressão para formas de pensar mais imediatas, visuais e tridimensionais". A ser assim, e é esta uma porta também aberta pelo estudo liderado por Christakis, o estado de desatenção em que hoje vivem tantas crianças e jovens seria, não o sintoma de uma doença, mas sim uma marca geracional, ou até mesmo civilizacional. O que tornaria insuperável o fosso já existente entre eles e o sistema de ensino prevalecente nas nossas sociedades. As escolas mais não estariam hoje do que a exigir-lhes o que eles já perderam, ignorando o que entretanto ganharam.»
Damos agora destaque a um trabalho de grande importância publicado por Clara Viana, na Pública de 26.9.04, intitulado "O cérebro deles estará a mudar?". Optamos, com a devida vénia à autora, por colocar no Irreal TV algumas das passagens mais importantes do texto, que é, de certo modo, um alerta público, sobretudo quando se quer fazer passar a ideia de que a 'Baby TV' é um bem caído dos céus...
Para já, o 'lead': «Os problemas de atenção passaram a ser a nova marca das crianças e jovens. Um estudo recente, ignorado em Portugal, põe em causa a explicação genética. A exposição muito precoce aos écrãs, sobretudo à televisão, com as suas muitas imagens rápidas e variadas, poderá estar a condicionar o seu cérebro a só aceitar um alto nível de estimulação. “Formatados" pela velocidade e pela fragmentação, existirá já um fosso irremediável entre eles e uma escola que lhes exige o que já perderam. Neste cenário intervém a omnisciente Ritalin (Ritalina, na gíria portuguesa), a anfetamina que, por receita médica, milhões de crianças em todo o mundo estão a tomar por conta da desatenção.»
«(...) nos EUA foi dada como testada uma relação entre a exposição precoce à televisão e os problemas de atenção que, nos últimos anos, parecem estar a tomar de assalto as crianças e jovens do mundo desenvolvido. "Não é possível saber se o crescimento da desordem por défice de atenção e hiperactividade é real, ou se é motivado pelo maior conhecimento da desordem. Mas existem razões para acreditar que, na primeira infância, os factores ambientais são importantes no desenvolvimento da desordem. Deste modo, a televisão pode muito bem ser um desses factores", comentou à Pública o pediatra norte-americano Dimitri Christakis. Foi ele que liderou o estudo do Child Health Institut, da Universidadede Washington, que veio dar uma primeira grande resposta afirmativa à questão, abanando assim a abordagem genética do chamado défice de atenção, ainda a preponderante nos EUA, em Portugal ou em mais meio mundo.»
Não era por acaso que Michel Foucault dizia que a loucura era um 'facto de civilização'... Muito há, pois, a pensar, para além das 'razões' genéticas.
«(...) Cristakis e a sua equipa pegaram numa amostra de mais de duas mil crianças com um e três anos de idade e seguiram-nas até por volta dos sete. O que foi feito do seguinte modo: quando os miúdos tinham um ano perguntaram aos seus pais quantas horas viam eles televisão; fizeram o mesmo quando chegaram aos três anos e depois, quando já tinham sete, as questões aos pais incidiram sobre a capacidade de atenção dos observados, sobre a capacidade para se concentrarem, sobre se eram impulsivos ou se se distraíam facilmente. Para além destes questionários foram levadas em linha de conta variáveis como a depressão materna, a estimulação cognitiva e o apoio emocional, entre outras.
«Principal conclusão do seu estudo, publicado na revista "Pediatrics": independentemente do que vê- os conteúdos não foram tidos em conta - uma criança antes dos três anos que veja duas horas de televisão por dia tem mais 20 por cento de probabilidades de desenvolver problemas de atenção do que outra que não tenha sido tão exposta à mesma televisão. Sendo que, como também revela a sua investigação, nos EUA uma criança de um ano vê, em média, 2,2 horas de televisão por dia e uma de três chega quase às quatro horas. EmPortugal, esta contagem só tem sido feita a partir dos 4 anos. No ano passado, os que tinham entre esta idade e os 14 anos, despendiam a ver televisão uma média de 179 minutos por dia - quase três horas.
«Christakis explica o que se poderá estar a passar: "Nos primeiros três anos de vida está em curso um desenvolvimento crucial do cérebro, especificamente as conexões entre neurónios. Aquilo a que chamamos sinapses do cérebro estão a formar-se. É uma espécie de montagem da mente que está a ocorrer naquele período. (...)
«Frente à televisão, geralmente a sós, as crianças estarão a ser sujeitas precisamente a uma sobre-estimulação visual, dada sobretudo a velocidade com que se sucedem as imagens e a sua diversidade, que é hoje a própria matéria dos media electrónicos. Esta exposição aos écrãs - que começa na televisão e se prolonga depois nos jogos de computador, "game boy", internet, etc. - poderá ter já "condicionado o cérebro a um alto nível de estimulação", como sublinha o pediatra norte-americano
«A psicóloga educacional Jane Healy, que há mais de 10anos tem vindo a alertar para os efeitos do uso excessivodos media electrónicosna mente das crianças, admite que este processo induziu já alteraçõesno funcionamento do cérebro:"Temos que aceitar e capitalizar o facto de as crianças de hoje serem portadoras de novas competências apropriadas a este novo século. A mudança que constatamos nas nossas crianças pode ser a parte visível de uma mudança na inteligência humana, traduzida numa progressão para formas de pensar mais imediatas, visuais e tridimensionais". A ser assim, e é esta uma porta também aberta pelo estudo liderado por Christakis, o estado de desatenção em que hoje vivem tantas crianças e jovens seria, não o sintoma de uma doença, mas sim uma marca geracional, ou até mesmo civilizacional. O que tornaria insuperável o fosso já existente entre eles e o sistema de ensino prevalecente nas nossas sociedades. As escolas mais não estariam hoje do que a exigir-lhes o que eles já perderam, ignorando o que entretanto ganharam.»
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