7.7.06

 

Os Jovens e os Novos Media


Estudo europeu analisa apropriação

Financiados pela União Europeia, investigadores de nove países europeus analisaram a forma como os jovens se apropriam dos media digitais. Os resultados apontam para a necessidade de apostar na literacia mediática.

Os jovens europeus passam mais tempo na Internet em casa do que na escola e, quase sempre, sem restrições por parte dos pais. São estas as principais conclusões do Mediappro – Media Appropriation –, um estudo apresentado na passada semana na Universidade do Algarve em que cerca de 7 500 alunos de nove países europeus, com idades compreendidas entre os 12 e os 18 anos, foram inquiridos sobre a apropriação que fazem dos novos media.

O estudo foi desenvolvido entre Janeiro de 2005 e Junho de 2006 por universidades, associações, fundações e gabinetes ministeriais da Bélgica, Portugal, Dinamarca, Estónia, França, Grécia, Itália, Polónia e Reino Unido, em colaboração com o Quebeque, no Canadá. Vítor Reia-Baptista, coordenador do Centro de Investigação em Ciências da Comunicação (CICCOM), o grupo parceiro no nosso País, afirmou que “estes resultados não têm representatividade absoluta”, mas são indicadores que podem fornecer pistas sobre fenómenos de info-exclusão e o tipo de utilização que os jovens fazem da Internet, das consolas de jogos e dos telemóveis. Em Portugal foram escolhidas quatro escolas do Algarve onde se realizaram cerca de 650 inquéritos e algumas entrevistas de fundo. Embora a amostra seja reduzida, os indicadores apresentados mostram semelhanças entre os países envolvidos.

Apanhados na «teia»

Os dados apresentados mostram que 96 por cento dos alunos inquiridos nas escolas algarvias seleccionadas afirmaram já ter utilizado a Internet. A média europeia indica que nove em cada dez alunos são utilizadores. Em Portugal, 25 por cento dos inquiridos não tem computador em casa, no entanto, o dado que mais intrigou os investigadores foi, segundo Vítor Reia, o facto de a taxa de utilização nas escolas ser tão baixa, apesar do investimento que as autoridades têm feito para colocar todos os estabelecimentos de ensino ligados em rede. A média dos países integrados no estudo aponta para 67 por cento de uso doméstico regular e apenas 26 por cento de uso na escola também com regularidade. Os alunos apontaram como causas principais a existência de um número reduzido de computadores nas escolas, equipamentos informáticos com problemas e a falta de tempo. Em casa há maior comodidade e não há horários escolares a cumprir, podendo os jovens passar mais tempo a navegar. O estudo procurou avaliar as consequências do acesso à Internet nas práticas culturais. Menos contacto com os media tradicionais e mais tempo dedicado à música foram os principais efeitos encontrados. Em termos de actividades on-line, os motores de pesquisa e o MSN são as ferramentas mais utilizadas para comunicar com os amigos e fazer trabalhos escolares.

Sem controlo

“Nas escolas não existe controlo e em casa diz respeito, sobretudo, ao tempo de utilização”, referiu o coordenador do CICCOM. O estudo revela que os pais são muito liberais em relação aos conteúdos que os jovens podem aceder on-line, no entanto, os utilizadores parecem estar alertados para os perigos da comunicação através da Internet. A questão que se coloca, referiu Vítor Reia, é “se seremos bons utilizadores” dos novos media. Neusa Baltazar, uma das investigadoras do centro, afirmou que “há uma ideia generalizada de que toda a gente sabe utilizar a Internet”, mas há muitos alunos que chegam à universidade sem conseguirem distinguir a informação credível da não credível. Outro dos perigos inerentes ao fácil acesso à informação “é a tentação do plágio”, salientou o coordenador. Perante este cenário, os parceiros deixaram diversas recomendações: é urgente educar para os media desde a tenra idade e dotar pais, alunos e professores de novos instrumentos críticos.

Telemóveis e consolas

Telemóveis e consolas foram outros aspectos estudados. A média europeia indica que 95 por cento dos jovens inquiridos usa telemóvel para comunicar com os amigos e pais. Em Portugal essa média é de 93 por cento. As consolas parecem estar a perder popularidade para os jogos on-line, no entanto, o resultado português ainda mostra um número superior de jovens a preferir a consola aos outros tipos de jogos. Este estudo foi desenvolvido com o apoio da União Europeia através do «Safer Internet Action Plan». O parceiro português foi o CICCOM, criado formalmente em 2005 mas já com algum historial em projectos de investigação. Para o seu coordenador, “o centro é o motor deste tipo de investigação e era importante que fosse um observatório, com uma actividade continuada”. Como sempre, a falta de financiamento é o principal entrave.

in O Algarve

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