13.12.05
Sessão Paralela - Educação para a Mídia
Apesar de se ter realizado já em Abril de 2004, trazia aqui a descrição da sessão paralela realizada sobre Educação para os Media (os nossos irmãos brasileiros utilizam a expressão Educação para a Mídia) na 4ª Cimeira Mundial de Media para Crianças e Adolescentes:
Moderador: Ismar Soares - USP,Brasil
Palestrantes: Guillermo Orozco - Pesquisador, México
Kathleen Tyner - Hi-Beam Consulting, EUA
Roberto Gianatelli - Associação Italiana de Media Education
Pierre Frémont - CLEMI, França
Citada ao longo de várias discussões, a educação para a mídia foi tema do último dia de sessões da 4ª CMMCA. Valeu a espera! Acompanhando o clima do Rio de Janeiro, que amanheceu com o sol brilhando depois de três dias de céu nublado, o debate em torno do assunto foi quente. Numa das sessões mais densas e concorridas, os debatedores falaram de políticas públicas, identidade, respeito, educação, valores, participação e visões múltiplas e críticas sobre a mídia.
Uma das maiores referências no País quando o tema é Educomunicação, o professor da USP Ismar Soares, que moderou o debate, alertou para o fato que, apesar de desde a década de 70 o tema estar sendo discutido por organizações não governamentais e iniciativas particulares, ou ele é idealizado ou desacreditado. E o pior, pelos próprios educadores. Para dar início às discussões o pesquisador colocou lenha na fogueira: "Está chegando o momento em que a educação para a mídia vai se converter em política pública? Como fazer para que isso aconteça? Como a sociedade está vendo essa questão?"
O pesquisador mexicano Guillermo Orozco defendeu o que chama de "pedagogia da audiência" com uma metodologia lúdica, afirmando que não é possível educar sem que o lúdico esteja presente. Ele criticou a centralização de alguns projetos nos meios de comunicação, como se eles fossem o mais importante no processo de comunicação e alertou para o fato que a educação para os meios não precisa acontecer só nas escolas: "Esse é o momento de ir mais adiante, além do cenário formal educativo e trabalhar em favelas, bairros marginais, grupos minoritários..." Para exemplificar sua teoria citou o Trompo Mágico, um museu interativo no México, cujo projeto foi idealizado não só por museólogos, mas também comunicadores. Ao invés das tradicionais exposições com obras estáticas, o local é o exemplo de como trabalhar com reflexão, curiosidade e surpresa, mostrando que a aprendizagem se faz de maneira compartilhada, percorrendo espaços, descobrindo-os. "São conhecimentos que se assimilam pelos sentidos, sempre com respeito à diversidade e levando em consideração o princípio da igualdade", defendeu o pesquisador, que desenvolve há vários anos estudos de recepção com crianças, considerando-as como membros de uma família, uma escola e uma cultura. Orozco alertou ainda que nenhuma escola está capacitada para essa "alfabetização" dos meios. Segundo ele, no México por exemplo, 60% dos que egressam da escola primária, não sabem ler nem escrever. "Como uma escola que não cumpre seu papel básico pode pensar em alfabetização para os meios?", questionou.
Polêmica posta foi a vez de Pierre Frémont, do Clemi (França), mostrar como a escola pode, em parceria com os meios de comunicação e apoio do governo, fazer essa educação para a mídia. "Temos a Semana da Imprensa, realizada há 15 anos na escola e, durante esse período, os meios disponibilizam exemplares do dia e jornalistas visitam as escolas onde são solicitados", lembrou Frémont que também destacou as publicações e trabalhos originados desse projeto como revistas para professores e jornalistas com leituras críticas dos meios feitas pelos alunos. O pesquisador fez questão de ressaltar que o trabalho é centrado prioritariamente sobre uma dimensão política, no sentido de participação na vida de uma sociedade democrática. "Temos um forte interesse pelo tema do pluralismo", disse.
O relato de projetos desenvolvidos com populações marginalizadas e minorias ficou a cargo de Kathleen Tyner, da Universidade de Austin e consultora da Hi-Beam Consulting (EUA). Ela trabalha numa perspectiva de alfabetização dos meios e defendeu a participação das crianças e adolescentes não só na análise dos meios, mas também na sua produção. "A alfabetização por si só não garante democracia, mas sem ela não há democracia, estamos perdidos", sentenciou. Ela defendeu ainda uma mídia autêntica, que mostre diferentes representações e vozes como condição de uma sociedade mais igualitária. Segundo a consultora, a razão da decadência da mídia norte-americana é justamente o fato dela não estar divulgando essa diversidade. "Temos histórias diferentes, em locais diferentes, com personagens diferentes e há uma exclusão da produção de comunicação, no mundo inteiro, para esse público", criticou Kathleen.
Presidente da Associação Italiana de Media Education, Roberto Gianatelli criticou o fato dos governos, em geral, não estarem interessados no estudo dos meios e cobrou mais envolvimento da sociedade. Ele destacou a possibilidade da mídia ser uma grande ferramenta de promoção da justiça e da democracia e sugeriu algumas perguntas que considera fundamentais para quem quer trabalhar com mídia e educação: "Por que ensinar mídia? O que ensinar sobre mídia? Educação para a mídia é base para a democracia?". Gianatelli, que também falou sobre a origem do termo Media Education, destacou a importância de se ter muito claro o que se quer alcançar com essa educação: "Precisamos saber o que queremos para que os alunos garantam uma autonomia crítica e possam exercer uma cidadania responsável". Ele defendeu ainda que a educação para a mídia leva os jovens a adquirirem um ingresso para uma vida mais significativa e cidadã.
Relatoria: Cristiane Parente - Jornalista Amiga da Criança
Moderador: Ismar Soares - USP,Brasil
Palestrantes: Guillermo Orozco - Pesquisador, México
Kathleen Tyner - Hi-Beam Consulting, EUA
Roberto Gianatelli - Associação Italiana de Media Education
Pierre Frémont - CLEMI, França
Citada ao longo de várias discussões, a educação para a mídia foi tema do último dia de sessões da 4ª CMMCA. Valeu a espera! Acompanhando o clima do Rio de Janeiro, que amanheceu com o sol brilhando depois de três dias de céu nublado, o debate em torno do assunto foi quente. Numa das sessões mais densas e concorridas, os debatedores falaram de políticas públicas, identidade, respeito, educação, valores, participação e visões múltiplas e críticas sobre a mídia.
Uma das maiores referências no País quando o tema é Educomunicação, o professor da USP Ismar Soares, que moderou o debate, alertou para o fato que, apesar de desde a década de 70 o tema estar sendo discutido por organizações não governamentais e iniciativas particulares, ou ele é idealizado ou desacreditado. E o pior, pelos próprios educadores. Para dar início às discussões o pesquisador colocou lenha na fogueira: "Está chegando o momento em que a educação para a mídia vai se converter em política pública? Como fazer para que isso aconteça? Como a sociedade está vendo essa questão?"
O pesquisador mexicano Guillermo Orozco defendeu o que chama de "pedagogia da audiência" com uma metodologia lúdica, afirmando que não é possível educar sem que o lúdico esteja presente. Ele criticou a centralização de alguns projetos nos meios de comunicação, como se eles fossem o mais importante no processo de comunicação e alertou para o fato que a educação para os meios não precisa acontecer só nas escolas: "Esse é o momento de ir mais adiante, além do cenário formal educativo e trabalhar em favelas, bairros marginais, grupos minoritários..." Para exemplificar sua teoria citou o Trompo Mágico, um museu interativo no México, cujo projeto foi idealizado não só por museólogos, mas também comunicadores. Ao invés das tradicionais exposições com obras estáticas, o local é o exemplo de como trabalhar com reflexão, curiosidade e surpresa, mostrando que a aprendizagem se faz de maneira compartilhada, percorrendo espaços, descobrindo-os. "São conhecimentos que se assimilam pelos sentidos, sempre com respeito à diversidade e levando em consideração o princípio da igualdade", defendeu o pesquisador, que desenvolve há vários anos estudos de recepção com crianças, considerando-as como membros de uma família, uma escola e uma cultura. Orozco alertou ainda que nenhuma escola está capacitada para essa "alfabetização" dos meios. Segundo ele, no México por exemplo, 60% dos que egressam da escola primária, não sabem ler nem escrever. "Como uma escola que não cumpre seu papel básico pode pensar em alfabetização para os meios?", questionou.
Polêmica posta foi a vez de Pierre Frémont, do Clemi (França), mostrar como a escola pode, em parceria com os meios de comunicação e apoio do governo, fazer essa educação para a mídia. "Temos a Semana da Imprensa, realizada há 15 anos na escola e, durante esse período, os meios disponibilizam exemplares do dia e jornalistas visitam as escolas onde são solicitados", lembrou Frémont que também destacou as publicações e trabalhos originados desse projeto como revistas para professores e jornalistas com leituras críticas dos meios feitas pelos alunos. O pesquisador fez questão de ressaltar que o trabalho é centrado prioritariamente sobre uma dimensão política, no sentido de participação na vida de uma sociedade democrática. "Temos um forte interesse pelo tema do pluralismo", disse.
O relato de projetos desenvolvidos com populações marginalizadas e minorias ficou a cargo de Kathleen Tyner, da Universidade de Austin e consultora da Hi-Beam Consulting (EUA). Ela trabalha numa perspectiva de alfabetização dos meios e defendeu a participação das crianças e adolescentes não só na análise dos meios, mas também na sua produção. "A alfabetização por si só não garante democracia, mas sem ela não há democracia, estamos perdidos", sentenciou. Ela defendeu ainda uma mídia autêntica, que mostre diferentes representações e vozes como condição de uma sociedade mais igualitária. Segundo a consultora, a razão da decadência da mídia norte-americana é justamente o fato dela não estar divulgando essa diversidade. "Temos histórias diferentes, em locais diferentes, com personagens diferentes e há uma exclusão da produção de comunicação, no mundo inteiro, para esse público", criticou Kathleen.
Presidente da Associação Italiana de Media Education, Roberto Gianatelli criticou o fato dos governos, em geral, não estarem interessados no estudo dos meios e cobrou mais envolvimento da sociedade. Ele destacou a possibilidade da mídia ser uma grande ferramenta de promoção da justiça e da democracia e sugeriu algumas perguntas que considera fundamentais para quem quer trabalhar com mídia e educação: "Por que ensinar mídia? O que ensinar sobre mídia? Educação para a mídia é base para a democracia?". Gianatelli, que também falou sobre a origem do termo Media Education, destacou a importância de se ter muito claro o que se quer alcançar com essa educação: "Precisamos saber o que queremos para que os alunos garantam uma autonomia crítica e possam exercer uma cidadania responsável". Ele defendeu ainda que a educação para a mídia leva os jovens a adquirirem um ingresso para uma vida mais significativa e cidadã.
Relatoria: Cristiane Parente - Jornalista Amiga da Criança